domingo, 5 de junho de 2011

Areópago digital

Areópago digital


Artigo de Dom Walmor Oliveira de Azevedo

BELO HORIZONTE, sexta-feira, 3 de junho de 2011 (ZENIT.org) - Apresentamos artigo do arcebispo de Belo Horizonte, Dom Walmor Oliveira de Azevedo, intitulado “Areópago digital”, divulgado nesta sexta-feira à imprensa.
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Paulo de Tarso, apóstolo, admirável por sua erudição, religiosidade e caráter cosmopolita, por isso merecedor da consideração que, depois de Jesus Cristo, seu Senhor, é único, esteve no famoso areópago de Atenas, no percurso de sua ação missionária. O evangelista Lucas, no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo dezessete, narra que o areópago era o lugar onde os atenienses e estrangeiros residentes na cidade passavam o tempo a contar ou a ouvir novidades. Lá os frequentadores queriam saber o que significavam as coisas. Convidado por filósofos epicureus e estóicos, carregando uma inquietação, e até revolta, por ver a cidade entregue à idolatria, Paulo foi ao local e, de pé, discursou movido pelo sonho e compromisso com a verdade, consciente que seu encontro é garantia da direção certa para a vida. É, também, possibilidade de correções de rumos e entendimentos que podem aprimorar a cidadania na sua integridade.
O Papa Bento XVI, na sua mensagem para o 45º Dia mundial das Comunicações Sociais, em 5 de junho - domingo da ascensão do Senhor - trata sobre o areópago digital que emoldura a vida contemporânea. Essa festa litúrgica, importante no calendário da Igreja Católica, celebra o acontecimento da elevação de Jesus Ressuscitado aos céus, enquanto abençoava os discípulos e por eles era adorado, deixando-lhes a tarefa missionária de continuar sua obra. Voltando a Jerusalém, depois de revestidos do Espírito Santo, espalharam-se pelo mundo inteiro e entre desafios e exigências, próprios da época – como os temos, também, nos dias atuais -, cumpriram a tarefa do anúncio da Verdade e o compromisso com a autenticidade de vida, como é preciso na internet que configura e mantém, hoje, o areópago digital. O Papa refere-se à revolução industrial, produtora de mudanças profundas na sociedade com novidades inseridas no ciclo de produção e na vida dos trabalhadores, assim como à grande transformação operada no campo das comunicações, que guia o fluxo de amplas mudanças culturais e sociais. De fato, é impressionante o volume de informações e possibilidades de intercâmbio, partilhas e interação que a internet oferece.
Essa consideração aponta um fenômeno maravilhoso, acesso a tudo para todos, em processo de socialização, gerando responsabilidades e exigindo reflexões para que não se percam os parâmetros das obrigações, sem comprometimentos com a cidadania. Como também, entre outros aspectos, a exigência, em qualquer âmbito: no trabalho profissional, na família, no governo de instituições ou no exercício missionário das confissões religiosas, a importância insubstituível e inadiável no uso das ofertas e possibilidades próprias da tecnologia da informação. Conhecimentos e informações são difundidos, produzindo nova maneira de pensar e aprender, com uso adequado, como oportunidades inéditas de estabelecer relações e construir comunhão, salienta o Papa. No entanto, há o desafio de refletir sobre o sentido da comunicação na era digital. As possibilidades oferecidas pelos novos meios são maravilhosas, não dispensam reflexões, encaminhamentos e ordenamentos quanto às extraordinárias potencialidades da internet e a complexidade de suas aplicações. O Papa lembra que esse fruto do engenho humano tem que estar a serviço do bem integral, tanto da pessoa quanto da humanidade. Ele recomenda que, usada com sabedoria, pode contribuir para satisfazer o desejo de sentido, verdade e unidade, que permanece como aspiração mais profunda do ser humano.
Compreende-se que essa conquista do engenho humano não é apenas um facilitador de trabalhos ou algo moderno que, por exemplo, substituiu a velha máquina de datilografia. Ou trouxe possibilidades de saber coisas com mais agilidade, não dispensando ninguém, nem as instituições, em particular as educacionais, de abraçar, mesmo com muitos investimentos a prática nesse areópago digital. A força de uma rede social aponta a importância do conhecimento partilhado e a interação. É verdade que desafia o entendimento da comunicação como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações positivas, sublinha Bento XVI; e a colisão com a parcialidade da interação, até o risco de cair no narcisismo. O mundo mudou, está mudando e vai mudar ainda mais, com exigências e desafios no anúncio da verdade. Na vivência da fé, no exercício comprometido da cidadania, possibilitando e exigindo participação na vida da cidade e na defesa dos direitos. É inevitável, para não correr o risco de estar fora do mundo e não realizar a própria missão, dominar o alcance do social network do contemporâneo areópago digital.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte

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