- A maternidade divina constitui o núcleo da Mariologia: Maria é essencialmente “Mãe de Deus”.
- Ela é toda relativa ao Cristo e, a partir do Cristo, relativa à Igreja
- Jesus é o centro, e Maria é central, por ser a pessoa mais próxima deste centro.
A expressão “Virgem-Mãe” é uma fórmula breve da fé:
- Virgem – sinal da divindade de Cristo (“nascido do Espírito Santo”
- Mãe – prova da humanidade de Cristo (“no seio da Virgem Maria”)
Imagem de Maria na História:
- Antiguidade - Mãe de Deus, Virgem, Rainha
- Idade Média - Nossa Senhora, Mãe da Misericórdia
- Idade Moderna - Rainha dos Povos, Serva do Senhor
- Idade Contemporânea - Discípula, Mulher
Princípios abertos:
- No Novo Testamento:
- "Cheia de graça" (Lc 1, 28)
- "Bendita entre as mulheres" (Lc 1, 42)
- "Mãe do meu senhor" (Lc 1, 42)
- "Aquela que acreditou" (Lc 1, 45)
- Aquela que "todas as gerações chamarão bem-aventurada" (Lc 1, 48)
- A mulher na qual o Onipotente fez "grandes coisas" (Lc 1, 49)
- A Mulher, a Nova Eva (Jo 2, 4; Ap 12, 1)
Quatro "privilégios" de Maria:
- Só ela é "Mãe do Senhor"
- Só ela foi "Mãe virginal"
- Só ela foi concebida imaculada
- Só ela foi assumida ao céu em corpo e alma
Princípios limitativos:
- Ela é criatura
- Ela é peregrina da fé
- Ela é redimida
- Ela é serva do Senhor
- Ela é membro da Igreja
MARIA NO EVANGELHO DE MARCOS
- Marcos fala pouco de Maria
- Maria é mãe carnal do Messias
- Tem apenas um nome, não um perfil definido
- Não tem uma personalidade, mas apenas uma função
Mc 3, 20-21:
"E voltou para casa. E de novo a multidão se apinhou, de tal modo que não podiam se alimentar. E quando os seus tomaram conhecimento disso, saíram para detê-lo, porque diziam: 'Enloqueceu!'"
Mc 3, 31-35:
"Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de fora, mandaram chamá-lo. Disseram-lhe: 'Tua mãe, teus irmãos e tuas irmãs estão lá fora e te procuram'. Ele perguntou: 'Quem é minha mãe e meus irmãos?' E repassando com o olhar os que estavam sentados ao redor disse: 'Eis minha mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.'"
Mc 6, 1-6:
"Começou a ensinar na sinagoga e numerosos ouvintes ficavam maravilhados dizendo: 'De onde vem tudo isto? E que sabedoria é esta que lhe foi dada? Não é o carpinteiro, o filho de Maria, irmão de Tiago, Joset, Judas e Simão? E a suas irmãs não estão aqui entre nós?'"
MARIA NO EVANGELHO DE MATEUS
- Em Mateus, Maria aparece com um personagem importante na História da salvação.
- Ela tem uma relação privilegiada com Cristo.
- Pela sua virgindade é testemunho e sacramento do Messias.
- É mais "mãe funcional" do Messias que "mãe pessoal".
Mt 1, 1-16:
A genealogia
"...Jacó gerou José, esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, chamado Cristo."
Mt 1, 18-25:
"A origem de Jesus foi assim: Maria, sua mãe, comprometida em casamento com José, antes que coabitassem, achou-se grávida pelo Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo. Enquanto assim decidia, eis que o Anjo do Senhor manifestou-se a ele em sonho, dizendo: 'José, filho do Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois ele salvará o seu povo dos pecados'. Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que o Senhor havia dito pelo seu profeta: 'Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e o chamarão de Emanuel'. José, ao despertar, agiu conforme o Anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu em casa sua mulher. Mas não a conheceu até o dia em que ela deu à luz um filho. E o chamou com o nome de Jesus."
Mt 2, 9-11:
"Eis que vieram magos do Oriente a Jerusálem. Eis que a estrela que tinham visto surgir ia à frente deles e parou sobre o lugar onde se encontrava o menino. Eles, revendo a estrela, se alegraram imensamente. Ao entrar na casa, viram o menino e Maria, sua mãe, e prostrando-se o homenagearam."
MARIA NO EVANGELHO DE JOÃO E NO APOCALIPSE
INTRODUÇÃO:
A Mariologia de João apresenta Maria como:
- A mediadora da fé (em Caná)
- A mãe da comunidade de fé (aos pés da cruz)
- A "Mulher" símbolo da Igreja, da Nova Humanidade e do Cosmos glorificado (Apocalipse)
Os dois textos maiores de João são centrais, em momentos decisivos: Caná é a inauguração da vida pública e o Calvário é o momento culminante da “hora”.
Estão ligados por três idéias: a “hora”, a referência à Mãe de Jesus e o apelativo “Mulher”
Os dados históricos em João estão presentes como base para um sentido mais profundo: simbólico, espiritual, místico, sobrenatural:
“Ninguém pode compreender o sentido do Evangelho de João a não ser quem repousar sobre o peito de Jesus ou receber Maria como mãe das mãos de Jesus” (Orígenes)
CANÁ - Jo 2, 1-12
“No terceiro dia, houve um casamento em Caná da Galiléia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus foi convidado para o casamento e os seus discípulos também. Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Respondeu-lhe Jesus: “Que queres de mim, mulher? Minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Havia ali seis talhas para a purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas. Jesus lhes disse: “Enchei as talhas de água”. Eles as encheram até a borda. Então lhes disse: “Tirai agora e levai ao mestre-sala”. Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho – ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventesque haviam retirado a água – chamou o noivo e lhe disse: “Todo homem serve primeiro o vinho bom, e quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora!”. Esse princípio dos sinais, Jesus o fez em Caná da Galiléia e manifestou a sua glória e os seus discípulos creram nele. Depois, desceram a Cafarnaum ele, sua mãe, irmãos e discípulos, e ali ficaram apenas alguns dias”.
AOS PÉS DA CRUZ - Jo 19, 25-28
“Perto da cruz de Jesus, permaneciam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Jesus, então, vendo sua mãe e, perto dela, o discípulo a quem amava, disse à sua mãe: “Mulher, eis o teu filho!” Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe!” E a partir dessa hora, o discípulo a recebeu em sua casa.”
A MULHER VISTA COM O SOL - Ap 12
“Um sinal grandioso apareceu no céu: uma Mulher vestida com o sol, tendo a lua sob os pés e sobre a cabeça uma coroa de doze estrelas; estava grávida e gritava, entre as dores do parto, atormentada para dar à luz. Apareceu então outro sinal no céu: um Dragão cor de fogo, com sete cabeças e dez chifres e sobre a cabeça sete diademas; sua cauda arrastava um terço das estrelas do céu, lançando-as para a terra. O Dragão colocou-se diante da Mulher que estava para dar à luz, a fim de devorar o filho, tão logo nascesse. Ela deu à luz um filho, um varão, que irá reger todas as nações com um centro de ferro. Seu filho, porém, foi arrebatado para junto de Deus e de seu trono, e a Mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar em que fosse alimentada por mil duzentos e sessenta dias. Houve então uma batalha no céu: Miguel e seus anjos guerrearam contra o Dragão. O Dragão batalhou, juntamente com seus anjos, mas foi derrotado, e não se encontrou mais lugar para eles no céu. Foi expulso o grande Dragão, a antiga serpente, o chamado Diabo ou Satanás, sedutor de toda terra habitada - foi expulso para a terra e seus Anjos foram expulsos com ele. (...)
(...) Ao ver que fora expulso para a terra, o Dragão, pôs-se a perseguir a Mulher que dera à luz o filho varão.
Ela, porém, recebeu as duas asas da grande águia para voar ao deserto, para o lugar em que, longe da Serpente é alimentada por um tempo, tempos e a metade de um tempo. A Serpente, então, vomitou água como um rio atrás da Mulher, a fim de submergi-la. A terra, porém, veio em socorro da Mulher: a terra abriu sua boca e engoliu o rio que o Dragão vomitara. Enfurecido por causa da Mulher, o Dragão foi então guerrear contra o resto de seus descendentes, os que observam os mandamentos de Deus e mantém o Testemunho de Jesus”.
OUTROS TEXTOS DE JOÃO:
Jo 1, 12-13
Jo 6, 42
Jo 7, 5
Jo 8, 41 b
MARIA: A IMACULADA E ASSUNTA AOS CÉUS
IMACULADA
A fé cristã vê em Maria concebida sem pecado a historificação da esperança e o encontro da busca.
Deus fez surgir alguém que fosse a esposa pura para o amor puro de Deus.
Escritos muito antigos já se referem a Maria como a Nova Eva.
No século VIII já se celebrava a festa litúrgica da Conceição de Maria em 08 de dezembro.
No Brasil colonial o povo já cultuava a “Nossa Senhora da Conceição”.
Pio IX, em 08 de dezembro de 1854, na Bula Ineffabilis Deus define o dogma:
“Declaramos e definimos que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original”
O dogma abrange dois pontos importantes:
- Maria livre do pecado original
- Tal privilégio foi concedido na previsão dos méritos de Jesus Cristo
ASSUNTA AOS CÉUS
Como foi o fim desta criatura singular chamada Maria?
Principalmente a partir dos séculos V e VI os cristãos começam a se interessar por esta questão.
“Assim como um filho busca estar com a própria Mãe e a mãe anseia viver com o filho, assim foi justo também que Tu, que amavas com um coração materno a teu Filho-Deus, voltasses a Ele” (S Germano – 733)
“Convinha que aquela que no parto havia conservado na íntegra a sua virgindade, conservasse sem nenhuma corrupção seu corpo, depois da Morte” (S João Damasceno – 749)
Pio XII, em 01 de novembro de 1950, define o dogma na Bula Munificentissimus Deus:
“Proclamamos, declaramos e definimos que a Imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso de sua vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”
O dogma traz alguns pontos importantes:
- A morte de Maria.
- Assunta em corpo e alma.
- As implicações para o homem e para a Igreja.
TEOLOGIA DE MARIA NA LUMEN GENTIUM - PARTE I
INTRODUÇÃO:
Doutrina de Maria em documento separado ou integrada no esquema sobre a Igreja?
Venceu a segunda posição por 1.114 votos a favor e 1.074 contra
A Mariologia entrou no documento sobre a Igreja – Lumen Gentium – como o capítulo VIII (nº 52 ao nº 69)
O capítulo oitavo se estrutura em duas linhas-mestras: cristológica e eclesiológica, como o próprio título sintetiza:
“A Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus, no mistério de Cristo e da Igreja”
O capítulo tem cinco partes:
- Proêmio
- Função da Santíssima Virgem na economia da salvação
- A Santíssima Virgem e a Igreja
- O culto da Santíssima Virgem na Igreja
- Maria, sinal de esperança certa e de consolação
Dentro dos destaques cristológico e eclesiológico, ainda se destacam:
- Enfoque histórico-salvífico
- Enfoque bíblico
- Enfoque antropológico
- Enfoque pastoral
PROÊMIO
53. A Virgem Maria, que na anunciação do anjo recebeu o Verbo de Deus no seu coração e no seu corpo e deu a Vida ao mundo é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus e do Redentor. Remida de modo mais sublime em atenção aos méritos de seu Filho e unida a Ele com vínculo estreito e indissolúvel. Com este dom de graça sem igual, ultrapassa de longe todas as outras criaturas celestes e terrestres.
53.Ao mesmo tempo encontra-se unida na estirpe de Adão com todos os homens que devem ser salvos; mais ainda, é “verdadeiramente mãe dos membros de Cristo, porque com seu amor colaborou para que na Igreja nascessem os fiéis que são os membros daquela cabeça”. É saudada como membro supereminente e absolutamente singular da Igreja, e também como seu protótipo e modelo acabado, na fé e na caridade.
MARIA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO
55. Os livros do Antigo e do Novo Testamento e a tradição mostram e colocam diante dos nossos olhos a função da Mãe do Salvador.
Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação e iluminam pouco a pouco a figura de uma mulher, a da Mãe do Redentor.
55. Ela aparece esboçada na promessa da vitória sobre a serpente (Gen 3, 15). Ela é a Virgem que há de conceber e dar à luz um filho, cujo nome será Emanuel (Is 7, 14). Ela sobressai entre os humildes e os pobres do Senhor, que dele esperam confiadamente e vêm a receber a salvação.
Enfim, com ela, após longa espera da promessa, atingem os tempos a sua plenitude e inaugura-se nova economia, quando o Filho de Deus assume dela a natureza humana.
56. Maria na anunciação
O Pai das misericórdias quis que a encarnação fosse precedida da aceitação por parte da Mãe predestinada a fim de que, como uma mulher tinha contribuído para a morte, também uma mulher contribuísse para a vida. Assim Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus, abraçando com generosidade a vontade salvífica de Deus.
Maria consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor,à pessoa e obra de seu Filho, servindo ao mistério da redenção sob sua dependência. Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência.
57. A Virgem Maria e o Menino Jesus
Esta união da Mãe com o Filho manifesta-se desde o momento em que Jesus Cristo é concebido virginalmente até a sua morte. Primeiramente, quando Maria se dirigiu pressurosa a visitar Isabel, e depois no nascimento, quando a Mãe de Deus mostrou aos pastores e aos magos seu Filho.
E também quando ao apresentá-lo no Templo ao Senhor , ofereceu o resgate dos pobres e ouviu Simeão profetizar. O Menino Jesus perdido e com tanta dor procurado, encontram-no Maria e José no templo, ocupado nas coisas de seu Pai.
58. A Virgem Maria no ministério público de Jesus
Sua mãe manifesta-se logo no início, quando nas bodas de Caná, movida de misericórdia, conseguiu, com sua intercessão, que Jesus, o Messias, desse início aos seus milagres.
Durante a pregação do seu Filho, recolheu as palavras com que ele, exaltando o reino acima das razões e vínculos da carne, proclamou bem-aventurados os que ouvem e observam a palavra de Deus, como ela fazia pontualmente.
A Santíssima Virgem avançou no caminho da fé e conservou fielmente a união com seu Filho até a cruz, junto da qual, por desígnio de Deus se manteve de pé.
59. A Virgem Maria depois da Ascensão
Vemos os apóstolos, antes do dia de Pentecostes, assíduos e unânimes na oração com algumas mulheres e com Maria, mãe de Jesus e os irmãos deste” (At 1, 14), e vemos Maria implorando com suas preces o dom do Espírito, que na anunciação já a tinha coberto com sua sombra.
A SANTÍSSIMA VIRGEM E A IGREJA
60. É um só o nosso Mediador, segundo as palavras do Apóstolo: “Porque há um só Deus, também há um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, verdadeiro homem, que se ofereceu em resgate por todos” (1 Tm 2, 5-6). A função maternal de Maria para com os homens, de nenhum modo obscurece ou diminui esta mediação única de Cristo, antes mostra qual é a sua eficácia.
Todo o influxo salutar da Santíssima Virgem em favor dos homens não é imposto por nenhuma necessidade intrínseca, mas sim por livre escolha de Deus e dimana da superabundância dos méritos de Cristo, funda-se na sua mediação, dela depende absolutamente e dela tira toda a sua eficácia.
61. A Santíssima Virgem foi na terra, por disposição da divina Providência, a Mãe do Redentor divino, e mais que ninguém sua companheira generosa e humilde escrava do Senhor. Ela cooperou, de modo absolutamente singular – pela obediência, pela esperança e caridade – na obra do Salvador. Por isso, ela é nossa mãe na ordem da graça.
62. A maternidade de Maria perdura sem cessar, desde o consentimento que ela prestou fielmente na anunciação e manteve sem vacilar ao pé da cruz, até a consumação final de todos os eleitos. Depois de elevada aos céus ela não abandonou esta missão, mas pela sua intercessão continua a obter-nos os dons da salvação.
Com seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho. Por isso é invocada na Igreja com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. Mas isso deve entender-se de modo que nada tire nem acrescente à dignidade e à eficácia de Cristo, Mediador único.
Nenhuma criatura pode colocar-se no mesmo plano que o Verbo encarnado e redentor. A única mediação do Redentor não exclui, antes suscita uma cooperação múltipla, embora a participar da fonte única. A Igreja não hesita em atribuir a Maria uma função subordinada para que os fiéis, apoiados nesta proteção maternal, se unam mais intimamente ao Mediador e Salvador.
63. A Santíssima Virgem encontra-se também intimamente unida à Igreja, pelo dom e cargo da maternidade divina, que a une com seu Filho e ainda pelas suas graças e prerrogativas singulares: a Mãe de Deus é a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo.
No mistério da Igreja, a qual também se chama com razão virgem e mãe, à Santíssima Virgem Maria pertence o primeiro lugar por ser, de modo eminente e singular, exemplo de virgem e de mãe.
64. A Igreja, contemplando a santidade misteriosa de Maria, imitando a sua caridade e cumprindo fielmente a vontade do Pai, torna-se também ela mãe: pela pregação e pelo batismo gera, para uma vida nova e imortal, os filhos concebidos do Espírito Santo e nascidos de Deus.
E é também virgem, que guarda a fé jurada ao Esposo íntegra e pura; e à imitação da Mãe do seu Senhor, conserva, pela graça do Espírito Santo, virginalmente íntegra a fé, sólida a esperança, sincera a caridade.
65. Na Santíssima Virgem, a Igreja já alcançou esta perfeição. Os fiéis, porém, continuam ainda a esforçar-se por crescer na santidade, vencendo o pecado. Por isso, levantam os olhos para Maria que refulge a toda a comunidade dos eleitos como modelo de virtudes.
A Virgem, durante a vida, foi modelo daquele amor materno de que devem estar animados todos aqueles que colaboram na missão apostólica da Igreja para a redenção dos homens.
O CULTO DA SANTÍSSIMA VIRGEM NA IGREJA
66. Maria foi exaltada pela graça de Deus acima de todos os anjos e de todos os homens, logo abaixo de seu Filho, por ser a Mãe Santíssima de Deus e como tal, haver interferido nos mistérios de Cristo, por isso a Igreja a honra com culto especial, já desde os mais antigos tempos.
Sobretudo a partir do Concílio de Éfeso, o culto prestado a Maria pelo povo de Deus cresceu admiravelmente, manifestando-se em veneração, amor, invocação, imitação.
Esse culto, tal como sempre existiu na Igreja, é de todo singular, mas difere essencialmente do culto de adoração que é prestado ao Verbo encarnado e do mesmo modo ao Pai e ao Espírito Santo, e muito contribui para ele. Pois as várias formas de devoção que a Igreja aprovou fazem com que, ao honrarmos a Mãe, seja bem conhecido, amado e glorificado o Filho e bem observados os mandamentos.
67. O Sagrado Concílio exorta todos os filhos da Igreja a que promovam dignamente o culto da Virgem Santíssima, de modo especial o culto litúrgico. Exorta os teólogos e pregadores que, ao considerarem a singular dignidade da Mãe de Deus se abstenham com cuidado de qualquer falso exagero, como também duma demasiada pequenez de espírito.
Esclareçam com precisão as funções e os privilégios de Maria, que sempre se referem a Cristo, origem de toda verdadeira santidade e devoção.
Recordem-se os fiéis de que a devoção autêntica não consiste em sentimentalismo estéril e passageiro, ou em vã credulidade, mas procede da fé verdadeira, que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus e nos incita a um amor filial para com nossa Mãe, e à imitação de suas virtudes.
MARIA, SINAL DE ESPERANÇA CERTA E CONSOLAÇÃO PARA O POVO PEREGRINO
68. Do mesmo modo que a Mãe de Jesus, já glorificada no céu em corpo e alma é imagem e primícia da Igreja, que há de atingir a sua perfeição no século futuro, assim já agora na terra, ela brilha como sinal de esperança segura e de consolação aos olhos do povo de Deus peregrino.
69. Todos os fiéis dirijam súplicas à Mãe de Deus e Mãe dos homens, para que ela, que assistiu com suas orações aos alvores da Igreja, também agora, exaltada no céu acima de todos os anjos e bem-aventurados, interceda junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, para que todas as famílias dos povos, quer se honrem do nome cristão, quer desconheçam ainda o Salvador, reúnam-se em paz e concórdia no único povo de Deus, para glória da santíssima e indivisa Trindade.
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